quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Alterações Curriculares no Ensino Médio gaúcho 02.

      Finda a deliberação municipal, tive novamente o privilégio de ser sorteado membro da delegação de alunos que representaria o município na esfera deliberativa com as escolas sob a jurisdição da 5° Coordenadoria Regional de Educação. Para tanto, resolvi elaborar novamente um texto com base no que havia sido aludido na primeira fase deliberativa.

       Um fato um tanto quanto curioso que considero relevante referir aqui é que ao questionar ao senhor Coordenador de Educação e ao palestrante convidado pela 5°CRE, o professor Dirnei (ou Dirlei) "O que o senhor vê como qualidade, qual a meta de qualidade educacional do estado e o que é qualidade para o governo? No instituto onde estudo há salas com capacidade para 30 alunos abrigando 53 educandos. Não se pode falar em qualidade de ensino sem que se tenha estrutura para tanto - as escolas terão estrutura? Como regatar a imagem de escola como ambiente de debate intelectual? Por que de um prazo tão curto para a apreciação destas mudanças? Não seria preferível dar um prazo um pouco maior para que isto seja discutido e, assim, contar com o apoio dos professores e dos sindicatos do que fazê-lo na iminência de uma greve?". O palestrante fez as devidas ressalvas (de que havia perguntas para a mesa e não para ele), cumprimentou-me pela pergunta do "debate intelectual" e começou a respondê-la, porém, parou e, indicou-nos um livro de Sociologia. Eu, até então pensava que, pelo fato de as perguntas serem dirigidas à Mesa, o Coordenador as responderia (aliás, o que era sua obrigação), mas para frustração minha e dos presentes não  houve resposta. Fui ignorado. No segundo bloco, (após a pausa para o almoço), solicitei o direito a palavra para argumentar novamente e solicitar que me fossem respondias as questões, mas a resposta do professor Círio foi: "vamos dar a palavra a quem ainda não falou". Assim, retornei à mesma em que fui: com dúvidas...


“Estudar significa: mudar o que se sabe e mudar o comportamento”. (Dr. Roberto Funck)

* O choque do educando quando sai do Ensino Médio e chega à Faculdade.
Durante todo o ensino fundamental e médio, o aluno é ensinado pelo mestre sobre uma determinada metodologia que, geralmente consiste em levar ao educando o conhecimento, explicá-lo, trabalhá-lo, enfim, a missão do professor é proporcionar uma base cognitiva que o aluno utilizará pelo resto de sua vida. À faculdade a missão do professor e a metodologia deste é outra: orientar o estudo do aluno. Ou seja, é o aluno quem vai à busca do conhecimento, quem terá de analisar e refletir sobre isso. Portanto, o aluno tem de saber buscar informação em fontes diversas, saber selecionar a informação apropriada e, utilizar essa informação de forma fecunda, ciente e apreciativa. É o aluno quem está mudando, expandindo seu conhecimento, sua postura. Isso exige um desenvolvimento para pensar diferente, evoluído com relação ao segundo grau. O aluno quando chega ao ensino superior tem de estar disposto a remodelar o que sabe alterar sua conduta em relação ao aprender, ao granjear conhecimento, do contrário ele estagna, pois não consegue se adaptar as novas formas de ensino.

Há, portanto, necessidade de que o aprendizado no Ensino Médio direcione o aluno a essa forma de aprender, para que ao menos, amenize esse “choque” entre o Ensino Médio e o Ensino Superior, pois muitos jovens não conseguem, num primeiro momento, atingirem uma boa colocação à faculdade por conta do tempo que levam adaptando-se a nova metodologia.

 *Formar cidadãos reflexivos e dotados de senso analítico.
Um dos principais problemas que há no Ensino Médio atual é o fato dos alunos muitas vezes não refletirem, tampouco analisarem as informações que estão recebendo, simplesmente as decoram, pois comumente os métodos avaliativos convencionais não exigem que ele responda de forma refletida, conquanto que decorada, não medem o qualitativo da aprendizagem, mas sim o quantitativo. Com isso, cria-se indivíduos que não pensam, memorizam teorias, as quais olvidam em curto prazo. Assim, muitas vezes pelo fato de não compreenderem amplamente o conteúdo lecionado, acabam inobservando uso empírico desses conhecimentos, tornando inexitosa a aprendizagem.

As alterações vigentes almejam mais do que estabelecer uma íntima relação entre segundo grau e mercado laboral coetâneo, mas um principio educativo de desenvolvimento das aptidões cognitivas e intelectuais complexas, desta forma, provocando a reflexão por parte do educando. Reforçando, assim, a máxima de escola como ambiente originador do diálogo dos distintos saberes.

Há, portanto, a necessidade de uma nova metodologia avaliativa, pois a capacidade intelectual e cognitiva de cada individuo pode apresentar de forma diversa, além de que será um meio de avaliar se realmente o aluno está refletindo, aprendendo o que lhe está sendo apresentado, ou apenas memorizando.

 * A necessidade de preparar o aluno para competir na vida profissional.
No último Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), as melhores colocações no índice de desempenho dos alunos foram ocupadas em sua maioria por escolas particulares, sendo que, segundo divulgação de um dos meios do Grupo RBS, a melhor colocação de uma escola pública foi o 13° lugar, isto é, de uma escola pública militar.

Na plenária realizada à cidade de Piratini, com a presença do professor Sírio, coordenador de educação da 5ª região (5ªCRE), foi colocado que, muitas vezes o mestre que leciona à rede privada, leciona também à rede pública, porquanto, não poder-se-ia apontar como problemática a atuação do professor. Infere-se, portanto, que o problema seja o sistema educacional.

A grande preocupação dos discentes que fizeram-se presentes à referida deliberação é de estarem ou não preparados para competir com os alunos de redes privadas e, até mesmo, com relação a qualidade do ensino que estão tendo.

As mudanças trazem dúvidas, e muitas, diga-se de passagem, mas tem como proposta “garantir aos alunos da rede estadual uma educação de qualidade, com cidadania, formação integrada e vinculada as necessidades do mundo contemporâneo” ¹.

Só poderemos analisar se esta reestruturação terá saldo positivo ou negativo quando findo o primeiro ano de sua implantação (2012). O fato é que, nosso sistema educacional encontra-se fragilizado, para não dizer em ruínas e, necessita com urgência de retificações que atentem à realidade dos educandários, docentes e discentes, visando melhorar a qualidade da educação, preparando o jovem para a cada vez mais exigente e competitiva vida profissional.

* A competitividade e seletividade do mercado de trabalho.
Dedicar-se a formação de qualidade de um profissional não significa educá-lo para acatar normas da sociedade neoliberal. Nesta, o mercado laboral é mostrado como um elemento impraticável de modificações, assim, quem há de adequar-se é a educação e o indivíduo as exigência de tal mercado. Parte-se da ideia de que a escolha de profissionais é natural, como se todos participassem do processo seletivo com as mesmas condições. Essa fala encobre, entretanto, que é na verdade no mercado de trabalho onde principia a exclusão social e a exclusão educacional; trata-se de um espaço altamente seletivo que visa à qualificação e qualidade acima de tudo.

Tendo em vista que o plano do governo com esta reestruturação do Ensino Médio é reduzir as desigualdades sociais e, aproximar o ensino das exigências do mercado de trabalho, questiona-se se haverá políticas publicas e planos sociais que deem apoio e garantam o acesso e a permanência de todos ao sistema educacional.


1. Extraído de “Perguntas e respostas sobre a proposta de reestruturação do Ensino Médio”, documento oficial distribuído pela CRE pergunta: 14.


Farias, M. S. "Alterações Curriculares no Ensino Médio gaúcho 02". Novembro de 2011. www.livredialogo.blogspot.com
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